sexta-feira, 3 de abril de 2009

Comunicado da associação de ciclismo dos Açores

Relativamente às notícias publicadas pelo Correio dos Açores nos passados dias 29 de Março e 1 de Abril, no que diz respeito a “Actividades Ilegais na Lagoa do Fogo”, gostaríamos de tecer os seguintes comentários, os quais tornamos públicos aqui neste blog. Este mesmo texto irá ser enviado para o referido jornal a solicitar que seja publicado numa das próximas edições:

A notícia de 29 de Março é ilustrada por uma foto sem autor, é um artigo sem assinatura, uma denúncia de um grupo de ambientalistas não identificados sobre actividades ilegais numa reserva natural. Tudo muito vago, excepto que o BTT está na linha da frente das actividades ilegais.

O artigo de dia 29 de Março foi o mote para um segundo artigo no dia 1 de Abril. No conjunto das duas notícias, são enumeradas três situações (acampamentos, fogueiras e motos) que dizem respeito a eventos que ocorrem mesmo no coração da reserva da Lagoa do Fogo, na sua zona mais sensível em termos ecológicos; é nessa zona que estão a maior parte das espécies vegetais com interesse ecológico, para além da própria Lagoa, um recurso aquífero de inestimável importância para a ilha e seus habitantes.

Incluem no mesmo “pacote”, uma prova oficial (logo não clandestina) de BTT realizada numa plantação de criptomérias infestada de conteiras, sujeita a uma exploração com fins comerciais, e localizada no limite exterior, não da Reserva Natural do Fogo, mas sim da “Área protegida para a gestão de habitats ou espécies da serra de Água de Pau”. E quando referimos “limite” da reserva é mesmo isso que queremos dizer: apenas os 100 metros iniciais da prova decorrem ainda na zona limítrofe da referida área. Os restantes 900 metros da prova não estão abrangidos pelo Decreto Legislativo Regional nº 19/2008/A de 08/07/2008.

O Clube NC e a Associação de Ciclismo já remeteram um esclarecimento aos Serviços de Ambiente de São Miguel e temos a certeza que este equívoco será devidamente ultrapassado, até porque a nossa postura tem sido a de total transparência para com todas as entidades oficiais com quem, de uma forma ou de outra, temos trabalhado.Não é por acaso que temos conseguido realizar provas (de Down-Hill e de Cross-Country) nas Sete-Cidades, na Lagoa do Carvão, no Pinhal da Paz, no Cerrado dos Bezerros, todas zonas sujeitas a legislação específica. Até agora não tivemos o mínimo problema com ninguém e isto deveu-se não só à nossa forma de trabalhar em prol da modalidade, mas também a todos os amantes de BTT que têm demonstrado um respeito enorme pelas normas ambientais em vigor nos locais por onde temos passado.

Fazemos notar que em momento algum, nem o Clube NC (entidade organizadora da prova) nem a Associação de Ciclismo dos Açores foram chamados a prestar quaisquer esclarecimentos em relação ao assunto, junto do Correio dos Açores. Achamos que teria sido elementar neste caso.
Perante o público, a única coisa que sobressai e que fica na memória de quem lê os artigos é de que existem “gangs” organizados em grupos, que se fazem mover através de bicicletas, com o intuito único e exclusivo de andar a destruir o ambiente por onde passam. Foi esta, infelizmente, a mensagem que o Correio dos Açores conseguiu fazer passar para a opinião pública, pelo menos a avaliar pelo feedback indignado que recebemos de muitos praticantes de ciclismo, tanto de recreio, como de competição.

O BTT não é de forma alguma uma actividade nefasta para o ambiente. É falso que os “betetistas” degradem o ambiente da forma como é retratado nos dois artigos que saíram no Correio dos Açores, sobretudo na edição do dia 29 de Março. O teor do texto que é redigido, revela uma profunda ignorância do que é a prática de BTT. Não somos ingénuos ao ponto de pensar que não existem aqui e ali praticantes que não respeitem as normas elementares deste desporto (infelizmente isto é transversal a todas as actividades humanas), no entanto, podemos afirmar que o BTT é um dos desportos “amigo do ambiente”, no sentido em as bicicletas não poluem, não emitem poluição sonora nem a sua passagem promove a degradação do piso… as bicicletas não têm motor. É tudo feito com o esforço do ciclista.

Apesar de ter sido feito de uma forma pouco elegante, a verdade é que nunca é demais chamar a atenção para a defesa do ambiente e para as implicações que existem por circular em zona classificadas. Ignorar isto seria dar de facto razão a quem se deu ao trabalho de envolver o BTT nesta polémica. Não é isso que queremos.

Enquanto praticantes desta modalidade, os betetistas devem colocar-se na vanguarda da defesa das causas ambientais. O BTT é por excelência um desporto que promove o contacto com a natureza. Por isso, temos todos responsabilidades acrescidas neste tema.

Deixamos aqui o convite à Associação Amigos dos Açores para reunir com a Associação de Ciclismo dos Açores no sentido de esclarecer o que nos parece ser um mal-entendido. Na nossa opinião seria extremamente útil um conhecimento mútuo das vontades e motivações de ambos. Seria por exemplo muito interessante a promoção de uma sessão de esclarecimento/debate por parte dos “Amigos dos Açores” aberta a todos os praticantes de BTT (e outros que se queiram juntar), para que todos fiquem devidamente sensibilizados para as questões ambientais, e nós próprios possamos estar à altura de ajudar a passar essa mensagem da melhor forma possível.

Fim do comunicado.

2 comentários:

VMA disse...

Na minha opinião, seria bom incluir nesse debate/sessão de esclarecimento um elemento da secretaria regional do ambiente e do mar. Pois, este será um debaye que irá levantar muitas questões e a diversos níveis, sendo que por isso, nada melhor que um profissional da área para esclarecer todas essas questões que possam surgir.

DjSousa disse...

Antes de mais quero dar os parabéns à Associação de Ciclismo dos Açores e aos responsáveis pelo "Trilhos de Lava" pela forma como encararam e trataram esse assunto.

A meu ver é um assunto sério e, como tal, deve ser tratado de igual forma, com seriedade.

É repugnante ver comentários sem sentido nem com fundamentação, os quais transmitem o mesmo baixo nível do tal artigo do dia 29.

No sentido de dar alguma ajuda nesta matéria, existe a nível nacional uma legislação de desporto de natureza que abrange algumas actividades, tais como:

Pedestrianismo;
Montanhismo;
Orientação;
Escalada;
Rapel;
Espeleologia;
Balonismo;
Párapente;
Asa delta sem motor;
Bicicleta todo o terreno (BTT);
etc:

Á margem desta legislação julgo ser importante e necessário, a resolução legalizando, estabelecendo medidas para a prática do BTT, bem como outros eventuais desportos, pressionar as entidades competentes nesta matéria.

Ao que parece, existe no país uma única "Carta de Desporto na Natureza", criando um documento destes não seria necessário obter licenças para cada actividade mas sim apenas um "alvará" que credenciava as associações/entidades para as actividades definidas na respectiva carta.

Gostaria ainda de clarificar que os Amigos dos Açores - Associação Ecológica, nada têm haver com a polémica denúncia do dia 29 e que, segundo o seu presidente, tem todo o gosto em apoiar a Associação de Ciclismo dos Açores a fazer pressão no sentido de existir legislação de desporto de natureza.

Para não prolongar mais ainda este comentário deixo aqui o link onde poderão obter mais informações acerca destas legislações.

Bem haja.